Trovadorismo

O Trovadorismo se caracteriza como um estilo de época, o qual se manifestou na Idade Média, durante o período do feudalismo.

Cumpre dizer, antes de tudo, que o Trovadorismo se manifestou na Idade Média, período este que teve início com o fim do Império Romano (destruído no século V com a invasão dos bárbaros vindos do norte da Europa), e se estendeu até o século XV, quando se deu a época do Renascimento. Nesse sentido, o artigo ora em questão tem por finalidade abordar acerca do contexto histórico-social, cultural e artístico que tanto demarcou este importante período da arte literária. Lembrando que o Trovadorismo teve início com a "Cantiga da Ribeirinha" de Paio Soares de Taveirós. Onde esta é um exemplo de cantiga de Amor.

Quanto ao contexto cultural e artístico, podemos afirmar que toda a Idade Média foi fortemente influenciada pela Igreja, a qual detinha o poder político e econômico, mantendo-se acima até de toda a nobreza feudal. Nesse ínterim, figurava uma visão de mundo baseada tão somente no teocentrismo, cuja ideologia afirmava que Deus era o centro de todas as coisas. Assim, o homem mantinha-se totalmente crédulo e religioso, cujos posicionamentos estavam sempre à mercê da vontade divina, assim como todos os fenômenos naturais.

Na arquitetura, toda a produção artística esteve voltada para a construção de igrejas, mosteiros, abadias e catedrais, tanto na Alta Idade Média, na qual predominou o estilo romântico, quanto na Baixa Idade Média, predominando o estilo gótico. No que tange às produções literárias, todas elas eram feitas em galego-português, denominadas de cantigas.

 

Características do Trovadorismo:

Características
A poesia desta época compőe-se basicamente de cantigas, geralmente com acompanhamento de instrumentos (alaúde, flauta, viola, gaita etc.). Quem escrevia e cantava essas poesias musicadas eram os jograis e os trovadores. Estes últimos deram origem ao nome deste estilo de época portuguęs.
Mais tarde, as cantigas foram compiladas em Cancioneiros. Os mais importantes Cancioneiros desta época săo o da Ajuda, o da Biblioteca Nacional e o da Vaticana.
As cantigas eram cantadas no idioma galego-portuguęs e dividem-se em dois tipos: líricas (de amor e de amigo) e satíricas (de escárnio e mal-dizer). VEJA O ESQUEMA ABAIXO:

 

Cantigas de amor
 Tratam, geralmente, de um relacionamento amoroso, em que o trovador canta seu amor a uma dama, normalmente de posiçăo social superior, inatingível. Refletindo a relaçăo social de servidăo, o trovador roga a dama que aceite sua dedicaçăo e submissăo.(Eu-lírico - masculino) Veja o Exemplo desta cantiga abaixo:

Cantiga da Ribeirinha

No mundo non me sei parelha,
entre me for como me vai,
Cá já moiro por vós, e - ai!
Mia senhor branca e vermelha.
Queredes que vos retraya
Quando vos eu vi em saya!
Mau dia me levantei,
Que vos enton non vi fea!
E, mia senhor, desdaqueldi, ai!
Me foi a mi mui mal,
E vós, filha de don Paai
Moniz, e bem vos semelha
Dhaver eu por vós guarvaia,
Pois eu, mia senhor, dalfaia
Nunca de vós houve nem hei
Valia dua correa
.

                                  Paio Soares de Taveirós

Cantigas de amigo
Neste tipo de texto, quem fala é a mulher e năo o homem. O trovador compőe a cantiga, mas o ponto de vista é feminino, mostrando o outro lado do relacionamento amoroso - o sofrimento da mulher ŕ espera do namorado (chamado "amigo"), a dor do amor năo correspondido, as saudades, os ciúmes, as confissőes da mulher a suas amigas, etc. Os elementos da natureza estăo sempre presentes, além de pessoas do ambiente familiar, evidenciando o caráter popular da cantiga de amigo.(Eu-lírico - feminino), VEJA UM EXEMPLO DE CANTIGA DE AMIGO ABAIXO:

Ai flores, ai flores do verde pinho
se sabedes novas do meu amigo,
ai deus, e u é?

Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado,
ai deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amigo,
aquele que mentiu do que pôs comigo,
ai deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amado,
aquele que mentiu do que me há jurado
ai deus, e u é?

(...)                                                            

D. Dinis

Cantigas satíricas

Aqui os trovadores preocupavam-se em denunciar os falsos valores morais vigentes, atingindo todas as classes sociais: senhores feudais, clérigos, povo e até eles próprios.

Cantigas de escárnio - As cantigas de escárnio eram aquelas em que a crítica não era feita de forma direta. Rebuscadas de uma linguagem conotativa, não indicavam o nome da pessoa satirizada. Verifiquemos:

Ai, dona fea, foste-vos queixar
que vos nunca louv[o] em meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar
em que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!...
João Garcia de Guilhade

Cantigas de maldizer - Nas cantigas de maldizer, como bem nos retrata o nome, a crítica era feita de maneira direta, e mencionava o nome da pessoa satirizada. Assim, envolvidas por uma linguagem chula, destacavam-se palavrões, geralmente envoltos por um tom de obscenidade, fazendo referência a situações relacionadas a adultério, prostituição, imoralidade dos padres, entre outros aspectos. Vejamos, pois:

Roi queimado morreu con amor
Em seus cantares por Sancta Maria
por ua dona que gran bem queria
e por se meter por mais trovador
porque lhela non quis [o] benfazer
fez-sel en seus cantares morrer
mas ressurgiu depois ao tercer dia!...
Pero Garcia Burgalês


Prof. Geovane Melo